quinta-feira, 13 de julho de 2006

Acusados do mensalão vão dividir palanque de campanha com Lula

Foto montagem - O Globo

Colaboração - Rosalva

Na íntegra
O PAÍS
Rio, 09 de julho de 2006 - Versão impressa - Jornal O Globo
Soraya Aggege - SÃO PAULO.

A maioria dos políticos denunciados à Justiça como membros da “quadrilha do mensalão” dividirá palanques com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha pela reeleição. Alguns já lançaram suas candidaturas fazendo propaganda da proximidade com o governo. Apesar de serem considerados suspeitos, o presidente não vê constrangimento nisso e está preparado para as críticas, segundo seu assessor especial e vice-presidente do PT, Marco Aurélio Garcia. — Não aceitamos o conceito de mensalão. Eles vão participar do palanque do presidente como todos os que apóiam a reeleição. O único constrangimento seria se eles não tivessem votos — diz Marco Aurélio, que também coordena o programa de governo de Lula. O governo e o PT prevêem que o fato será explorado pela oposição, mas decidiram enfrentar a situação. — Até agora eles não foram condenados. Quem falar deve apresentar provas concretas — diz Marco Aurélio. Enquanto os palanques não são montados, na largada das campanhas para deputado alguns já fazem propaganda das conquistas obtidas com o governo para as bases eleitorais. João Paulo e Luizinho associam campanhas a Lula O ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e o ex-líder do governo Professor Luizinho escaparam da cassação, mas foram denunciados ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, como membros da “quadrilha” do mensalão. Em campanha para continuar na Câmara, usam fotos de Lula e divulgam benfeitorias obtidas com o governo em seus boletins. No PT, a expectativa é que João Paulo, Antonio Palocci e José Genoino funcionem até como puxadores de votos para a legenda. Genoino e Palocci devem ter privilégios para suas campanhas. Genoino já ficou com o número 1313, considerado o mais importante do partido. Para um dirigente estadual do PT, os dois foram injustiçados. Embora esteja em campanha, a maioria dos candidatos tem evitado a imprensa. Palocci chegou a marcar uma entrevista por telefone, mas não atendeu mais ligações. O ex-presidente do PT José Genoino também se recusa a dar entrevistas. João Paulo e Professor Luizinho não atenderam os pedidos de entrevistas. Segundo interlocutores dos candidatos, eles não querem comentar com jornalistas o passado, referindo-se ao mensalão. Já o deputado José Mentor (PT-SP), também denunciado pelo procurador-geral, afirmou que a ordem é defender o mandato do presidente Lula e trabalhar pela sua reeleição. Segundo ele, a eleição será o verdadeiro julgamento da população sobre os citados no escândalo. — Vou prestar contas de meu mandato e mostrar provas da minha inocência para quem me questionar. Não acho que será uma eleição mais difícil que as outras. Será, para mim, uma prestação de contas — diz Mentor. Para o deputado, os votos não serão definidos pela proximidade ou não dos candidatos com o governo federal, mas nada impede que os eleitores considerem positivo esse detalhe: — Não é apenas porque sou amigo do presidente Lula que vou ganhar mais votos. Claro que faz parte juntar as duas coisas. Nós faremos uma defesa do governo Lula, pois somos da base dele. Candidatos do grupo do mensalão apoiarão governo Na antiga base aliada, os acusados também já se movimentam para ocupar os palanques do presidente. O presidente afastado do PL, Valdemar Costa Neto, que renunciou para não ser cassado, é candidato e defenderá o governo Lula, segundo sua assessoria. — Costa Neto vai apoiar o presidente Lula e deverá acompanhá-lo em alguns eventos. A única motivação da sua candidatura é ajudar o próprio partido (PL) a ganhar mais votos — diz seu assessor Vladimir Porfírio, depois de explicar que Costa Neto não fala mais com jornalistas. Um dos pivôs do escândalo, que admitiu ter recebido dinheiro do valerioduto para ajudar o PL eleitoralmente, Costa Neto tem feito sua campanha a partir de prefeitos da região do Alto Tietê, em São Paulo, prometendo benefícios e investimentos para as cidades, no caso de reeleição. Outros candidatos denunciados, como os deputados Pedro Henry (PP-MT) e José Borba (PMDB-PR), que renunciou ao mandato para escapar da cassação, também pretendem fazer campanha para Lula, segundo alguns interlocutores. Já o deputado Vadão Gomes (PP-SP), que acabou inocentado na Câmara e nas denúncias do procurador-geral, ainda não decidiu se apoiará Lula ou Geraldo Alckmin (PSDB). Mas adianta que não terá constrangimentos.

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